21 de abril de 2008
Sem sinais de fumaça
Um sorriso de aparelho para um sorriso de dentes tortos. Seu abraço sem medo que acolhe os meus. Um encaixe gostoso, tão instável quando longe, tão seguro quando perto.
Indo contra minha corrente, vamos juntos. E vamos... e vamos... e vamos.
Não quero fazer daqui minhas cartas que nunca recebrá. Não quero ouvir sua voz murchar quando falo aquelas palavrinhas difíceis.
Faça o desejo agora. No 23.
Sketch
Invenções de um mundo de ilusão. Finjo amor, finjo piadas. Finjo estar tudo bem com uma máscara estampada. Eu queria deitar, olhar tudo como se tudo fosse estar ali quando eu despertar. Ali, bem do jeito que eu deixei. Mas a alquimia natural do mundo não torna isso possível. Quando eu acordar desse pesadelo, tudo vai ser mais bonito.
Para os que ficarem para trás, não me sigam, cada um tem o seu caminho e seus motivos. Para quem chorar, seque-se em minhas poesias, molhe minha dor enquanto enxugo a sua. Uns rabiscos pra dizer que meu amor está cada vez mais perto. E eu amo cada vez mais, porque é a única certeza. Amar é sempre destrutível, mas nem sempre ter razão é bom.
"My love can go where you don't know
and I love to grow, where you don't know
I know I'll always be like this
Until I can find a cure
If my love is my disease,
I will love you more and more"
20 de abril de 2008
Sem seqüelas
19 de abril de 2008
Prelude to a Kiss
O assunto não podia acabar, e se forçavam a falar sobre tudo. Tudo que se resumia a qualquer coisa que não os fizessem em silêncio. As mãos dele suavam. Ela enrubecia gradativamente. Risadas tímidas de ambos sem-graça. Flertes em tom de brincadeira. Qualquer história inventada como desculpa para se encostarem. Leves toque que arrancavam suspiros secretos.
O peito batia como se o coração desejasse pular dali e dizer "Hey, estou aqui, e eu te quero". Ela o queria tanto assim. Ele a queria tanto assim. As bocas se olhavam, se desejando. E as imperfeições eram perfeitas. O cenário não importava, e os únicos sons que faziam sentido eram os que se faziam recíprocos a eles. Aquele era o instante em que tudo pára.
Ela sempre queria, sempre fugia, sempre exitava sem explicação lógica. Mulheres são assim mesmo. Ele sempre era deixado pra trás sem qualquer justificativa convincente. Mas era insegurança, incerteza, eram motivos e motivos. Era tudo que os braços dele a livraria se ela permitisse. Ela toma o primeiro passo quebrando o silêncio com um "eu tenho que ir" já arrependido.
- Para onde você vai?
- Para qualquer outro lugar.
- Um passo à frente já é outro lugar.
16 de abril de 2008
Quem é Quem (e vice-e-versa)
Sobem pelo meu corpo. Aos poucos me formiga todo. Literalmente. Caminham lentamente, ordenadamente de encontro. Pelo corpo todo. Eu quero ser a rainha. Serei a mais bela de todas.
Vieram adiante sem eu nada poder fazer. Sem o devido respeito ocuparam todo o espaço. Me deram vestido, me coroaram. Me deram um orgulho pra cuidar. Antes que pudesse ouvir chamar, tomaram meus ouvidos. Antes que pudesse gritar, ocuparam minha boca. Desceram ao meu estômago e comeram as borboletas. Me iludiram ser nobreza, me fizeram acreditar.
Seguraram minhas mãos, me impediram de atitudes. Comeram meus cabelos e todas minhas personalidades. Entraram em minhas veias, apodreceram meu coração. Meu pobre coração... - Mas eu sou a rainha - tentando me justificar, tentando fazê-las entender.
Formigas. São todos formigas. Pena eu não ter uma lupa gigante, pena o sol não estar escaldante. A minha vantagem em relação às formigas é que elas vivem em silêncio, e eu não as ouço chorar. A vantagem é eu ser bem maior que elas.
- Eu sou a rainha - gritava, - EU SOU A RAINHA! - Por medo e raiva, atacava. E pisava, e pisava, e pisava...
14 de abril de 2008
Querer Sem Querer
E a resposta:
olha quem vem falar
a dona da verdade
se não deu pra ti, azar
te falta um pouco de humildade
minha fama é de mal-amado
o seu garrancho já me cansou
eu não vou ficar parado
batendo palma pro seu show
você não sabe conversar
e nunca tem tempo pra um carinho
só abre a boca pra xingar
nesse caso melhor estar sozinho
sempre me evita
de você só quero distância
pra ser ouvida sempre grita
você é pequena demais, criança
o seu papo é blá blá blá
fala demais sobre tudo
você nunca vai parar
aonde fica seu botão "mudo"?
você não tem moral
tá na cara que já não me ama
só somos um casal
porque dormimos na mesma cama
não dá mais pra continuar
você é que sempre se excluiu
se não consegue enxergar
vá para a puta que te pariu
abre a boca só pra reclamar
depois de tudo que eu te dei
se me quiser vai ter que ajoelhar
e me chamar de "meu rei"
11 de abril de 2008
Calm Like a Bomb (parte II)
O gosto do sangue era mais gostoso fresco. E ninguém ousou tocá-lo. Ele se lambusava feito criancinha com sorvete. Era seu próprio sangue, e não havia ninguém para limpá-lo, para fazer com que parasse. Não havia ninguém para estancar sua dor, ou para chorar por.
Não havia mais razão em sempre implodir e causar uma hemorragia interna para proteger os que ama. Quem ama, está próximo. Ele explodiu e choveu por aí, mas tudo bem, não havia ninguém.
8 de abril de 2008
My Violent Heart
Uma faca em minhas mãos. Uma faca suja em minhas mãos. Sujas. Um corpo, o ar agora é todo meu. Minha sede eu mato bebendo como um cão o sangue do chão. Eu mato. Matei aquele corpo como se fosse só um pedaço de carne banal, daquelas de animais que a gente mata sem rancor. Eu não me sentia culpado. E perdi a conta de quantas vezes a faca em meus punhos cerrados se afogou em ti.
Meu rosto futuro. Morto. Meu antepassado, morto. Por minhas próprias mãos, com meu próprio ódio. Enterro-o num lugar óbvio, ninguém procura no óbvio. Os dias passavam e eu fingia chorar sua perda, mas chorava outros turbilhões de motivos que nos acompanham quando tiramos a vida de alguém.
Eu deixava pistas para que fosse encontrado. Eu era o culpado daquilo tudo e merecia minha punição. Mas não queria que fosse fácil para eles. Não estava sendo pra mim, por que para eles seria? Quando desenterraram o resto da carcaça daquilo que um dia pude chamar de família, havia um rombo em seu peito, um buraco oco e vazio. "Aonde foi parar o coração?" todos se perguntavam.
Não me lembrava de ter arrancado seu coração. Estava tão assustado que só pensava em sumir com seu resto e com o que sobrou de mim. Facadas, arranhões, unhas e mordidas em seu peito até alcançar seu coração. E lá estava. Tristonho e jovem, como não te conheci. Experimentei e serviu direitinho. "Eu também preciso de amor, ____,e você cobrava isso. Agora a sala vazia dentro de mim estava completa com o coração de outro. O seu, ha ha ha ha". - Eu enlouquecia. Eu me lembro agora. Um coração vazio, num espaço vazio. Sem nada. Eu havia jogado o meu fora, por que o de outro alguém me serviria? Estúpido
Então servi a mim mesmo aquele coração no jantar. Chorei até que meus olhos cansassem e dormissem. Esperei no mundo dos sonhos até que me achassem. Entraram em meu esconderijo com armas e gritos. Quando acordei, acordei.
4 de abril de 2008
Pareidolias
Recuei, queria te olhar. Você não deixou.
Canto no Meio
É meio por isso mesmo que eu canto.
Por que é que eu canto, mesmo?
"E é por isso que eu me encanto. Tanto canto assim te coloca sempre ao meio. Mas sempre completo, sem receio. No entanto, mesmo subindo ao teto, eu mesmo te garanto que esse é o caminho certo."