- Conta uma história pra eu dormir?
- Ah Yu, eu não sei. Conta você.
- Ahhh eu?
- É.
- Hm... Não consigo pensar em nada agora.
- Consegue sim. Vou te dar três palavras e você vai contando.
- Tá.
- Praia, céu e peixes.
- Hm... Beleza, vou tentar.
Primeira noite: Segredos do Mar
Quis sentir os vidros em seus pés. Moídos, os cacos se misturavam a outras coisas misturadas a outras que formavam cacos que se misturavam a seus pés. Segredos partidos na areia. Areia que nos olhos são sonhos, nos pés, caminhos.
Quanto mais afundava nos vidros, mais entrava naquele deserto que aos poucos se tornava praia. Mais ela fazia parte de mim e eu dela. Olhei o Sol no topo, não estava calor, não era verão, mas brilhava imponente sem se importar. Ele brincava com as sombras de tudo, só pra se distrair, matar o tempo. Elas dançavam a minha volta fazendo um convite que recusei.
Percebi então que o mar não tem sombra, só um lado sombrio. Apreensivo, pus um pé, depois outro. Não sabia dizer se a água estava quente ou gelada, com ondas agitadas ou cansadas. Adentrei hipnotizado, como se a própria Iara ou Iemanjá tivessem aparecido e me feito o convite. Quando vi, só estava com a cabeça pra fora, então me deixei afundar.
Percebi que as estrelas que caiam do céu iam parar ali, no fundo do mar. E a luz do Sol não alcançava os mistérios reservados a poucos. Lá havia um enorme vazio, como na superfície, só que tudo era em câmera lenta. A semelhança fazia com que tudo fosse parecido e a tristeza tomava conta de mim aos poucos, fazendo meu humor combinar com o azul frio do mar.
Foi aí que, cansado de olhar tanto pra baixo, olhei pra cima. Vi uma luz lá do alto, os peixes flutuavam no céu.
Um comentário:
parece um sobre o mar que vc fez um tempão atrás
gostei dos peixes voadores
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