Luzes. Escuridão. Luzes. Escuridão. E assim permaneceu, como se eu estivesse abrindo e fechando os olhos a todo instante, mesmo eles estando intactos, vidrados em lembranças longes dali. Secando e lacrimejando, abertos em memórias, distante do agora.
Alguém me procura, passa a mão em meus cabelos e me beija. “Você está lindo hoje, Kiddo”. Obrigado. Continuo parado. O rosto amigo some na escuridão. Aparece na luz. Some na escuridão. Como todas as outras. A música é boa pelo menos, penso tentando me enganar pra me alegrar naquele instante.
Vejo mais rostos conhecidos, me cumprimentam, sorrio de volta. Sou querido no meio de pessoas também queridas. Dou um gole no perfume dentro do copo. Mais um pouco pra dentro do corpo. Eu gostaria de estar ali, mas minha cabeça está em outro lugar. Flutuo pelo ambiente em busca de diversão ou algo que mate a saudade ou baqueie meus anseios. Talvez alguma insanidade pra alimentar meu espírito inquieto, inconstante, insano. Mas estou são. Sóbrio, me resta beber. E eu odeio beber.
Aqui todos são anímicos. Alguns são doces, e me alimentam com seus venenos. Então eu fico voando e divagando pra sempre nesse espaço. Meu peito bate conforme o grave do som, mas a minha real sensação é a de que está tudo parado. Olho direto nos olhos do clarão, ele me devolve a negritude da ausência. A luz brilha no escuro, e a escuridão nunca vai entender isso.
Cambaleio dançante até o banheiro. Não sou um homem sério, tampouco sou feliz. Gargalho com amigos no caminho, mas há um vazio tão grande dentro de mim que me completa - adoro uma ironia. Não estava ali e não estava em nenhum outro lugar. Meu pensamento só quedava no que havia perdido, talvez para sempre. Luzes me lembravam seu olhar, e na escuridão, eu a via caminhar nua em minha direção com os ossos brilhando, como um espírito em raio-x que aparece em meu sonhar. Ilusão.
Me misturo ao vômito e mijo daquele lavabo e marco lembranças em minha carne. O sangue começa a sair pelo espaço que concedo. Escorre pelos meus braços, escorre pelo meu peito, escorre pelas minhas pernas. Tenho algo dentro de mim, enfim. Algo para me tornar vivo, uma tentativa falha pra tentar não pensar, me distrair. Tem algo maligno dentro de mim que não me permite ser além do que não sou. E não se esvai com o sangue.
Minha cor vai pingando naquele banheiro. De repente, o lugar parou de altenar entre luz e escuridão e prevaleceu somente um. De repente, eu fui levantar e caí. Acho que bebi demais, acho que estou sangrando demais. Acho que vou ficar por aqui.
Ela é minha festa particular. "I’m the new king. I taste the queen"
Oh, decadência, pegue sua faca e me beije.
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Dedico este texto à minha irmã, Teta Gorda, que também considera a música que leva o mesmo nome do título fantástica, porém não é adepta da prática. =)
3 comentários:
por algum motivo, ler isso me incomoda. mas eu gosto...
realmente ficou muito bom!
"Aqui todos são anímicos" . essa é da música! não sou adepta a prática...hmmm...sei.
Bom texto. Você e suas mania(c)s! "i’m the new king. i taste the queen"
acho que parei de gostar desses textos, imaginando eles poderem ser verdades
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