Eu me sinto vazio. Minhas roupas mudaram, os lugares, as companhias, as conversas. Tudo mudou. Mas o vazio permanece aqui, preso no meu tempo, dentro do deserto da ampulheta.
Eu me pergunto “o que é real?”, se tudo é a representação simbólica de mais tudo? Como ser real nesse deserto atemporal? Simbolicamente atemporal apenas. Parece que o tempo não se mexe e que nada é novidade. Até notarmos que já estamos velhos e desgastados pelo mesmo tempo que dizia não passar; corrompidos pelo mesmo mundo que dizia ser bom, sujeitos a uma vida miserável e medíocre que nos fazia promessas açucaradas.
As lembranças parecem ondas salgadas e espumosas. Quando fecho os olhos, sinto o relógio ir parando, lentamente, prolongando o segundo, um tic batendo no tac, ecoando em minha mente... vazia, fazendo tudo girar numa onda lisérgica. Quando abro, pronto, já foi um ano e outro ano e outro e mais outro e mais... Às vezes a cegueira é dádiva, por isso sonhamos de olhos fechados.
A areia corrói e se movimenta. O deserto é alquimista e (se)transforma. Eu permaneço aqui, preso na ampulheta, gritando por socorro enquanto as areias do tempo calam minha garganta. As areias azuis do tempo... Às vezes eu acho que é só um sonho. E se eu acordar, pra onde vou?
Sempre ouvi que os desertos se expandem e caminham. Fico me perguntando o tamanho do meu deserto, se ele é tão maior que eu, e se algum dia ele irá caminhar pra outro lugar.
Só o que está dentro de mim é real. Eu preciso sair da ilusão do Eu.
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