Encheu o mar de sangue. Cobriu o azul silencioso com a tormenta de uma voz que sussurra baixinho em meu ouvido esquerdo. Chorou as lágrimas do mar e me banhou, seguindo a tradição de purificar e me dar a bênção.
O fundo do mar é segredo. O tempestuoso tornado é invisível a olhos nus, a não ser que tenhamos coragem de mergulhar bem fundo. E temos. Palavras entre onda e outra me invadiam, calavam a minha boca sem me tocar. Mas não sou impenetrável, não tento ser. Não mais. Mas às vezes acho que meu sangue é óleo. Às vezes tenho certeza.
Veio até mim, quando se forma é uma onda turbulenta que derruba e balança e afoga e agora(?). Agora é raso, é marola... Mas por que ainda engasga e sufoca? Por que a areia é movediça e traiçoeira? Nenhum lugar é terra firme abaixo dos meus pés. Minha cabeça às vezes acha que voa. Muitos ainda atravancam meu caminho. Eles acham que sou passarinho, mas enquanto outros passam, eu rastejo por não ser tão leve e livre. Não passo nem vôo, não fico nem vou. Não era, nem sou.
Sou um pirata do mar de sangue. Da fruta vermelha secreta do mundo, no fundo do oceano, pode escolher um, todos têm, eu nunca me engano. Seu coração é minha bússola, que eu atirei à sorte aos sete mares na esperança de um dia poder reencontrar. É por isso que pouco escrevo sobre você, para não fazer chorar, muito menos fazer sofrer. É difícil, eu sei que é, mas é preciso ter fé. Pirata é malandro mesmo com a instabilidade no pé. Um dia encontro terra firme se assim os deuses quiserem, se minhas pernas permitirem, se minha coragem alcançar... se um dia eu pegar de volta minha guia, aquela fruta vermelha do fundo do mar...
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