Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

7 de outubro de 2009

Inércia


Prólogo. Pego o ônibus, vou.
Volto.
Pego o carro, vou.
Volto.
Pego o ônibus, um ir, e depois mais um pra voltar.
Espero.
Mais um ônibus, um metrô, quilômetros a pé. Isso tudo antes da chuva. Enquanto eu chovia. Depois volto de tudo para casa. Vinte reais de transporte, dez de álcool, quinze horas de viagem.
Não saí do lugar.




Chuva. Noite de chuva.
"Vai chover".
Combinei às 19h com o Lourenço, vou atrasar, como nunca atraso. Passeio por calçadas desconhecidas, ruelas de paralelepípedos.
Não me importo.
Foi um dia ruim, foi péssimo.
Olho para ele, minha voz quase sai antes da dele.
Baixinho, "oi yuri".

Não dormi nada.
Fiquei pensando, peguei o livro molhado, folheei sem ler nada, pensei mais um pouco. Assisti um filme ridículo de terror, deletei logo em seguida.
Hm, tenho tempo. Tenho tanta coisa pra fazer e tenho tempo.
Faço nada.
Faço pensar.
Queria fazer amor. Olho para minha mão e é o único amor ali.
Faço nada.
Só pensar.

Que dia horrível foi. E qual não é?
Quis me rebater. re-bater. baterbater.
Fiz nada.
Só chorar, por tudo. Um choro que eu nem me lembrava mais que estava aqui, guardado, escondido no escuro, ou no claro. Claro. Qual choro eu não seguro para não me sentir mais seguro? O dos outros, pensei.
Pensei.

Tomei a maior chuva, molhei tudo. Trinta e quatro reais de letras borradas. Estou todo sujo, sujei tudo. Com minha companhia, fui repreendido de palavras.
Corri e corri querendo fugir do que eu nem sei mais.
Chuva.
Começou sendo chuva.

Madrugo esperando o dia, feito o dia esperando a noite acabar.
Ninguém me espera.
O Sol vem chegando com o aviso "it's you now, champs". O Sol também fala inglês, claro, senão vem outro astro mais qualificado e toma o lugar dele.
Pensei.
Vejo o dia nascer, não queria mais nada.
Só ver o dia nascer e mais nada.
Até ele morrer.
Até eu.
Até.



Posfácio. Hoje. A hora que eu levantei o céu estava lindo. Tinha até um motivo para erguer a cabeça. Agora está horrível, depois me perguntam porque só olho para o chão.
Mas não é culpa do céu.
Na moto, frio. Gotas escondem parcialmente o meu destino. Com a viseira ninguém pode me ver. Qualquer coisa é a chuva, choveu dentro. Choveu fora.
Pensar.
Lembrei do que me falaram. "Queria que você falhasse".
Pessoas queridas falam.
Eu fal(h)o.

Eu penso.
Fiquei pensando.
Minha vez. Agora é a minha vez.
Faço nada.
Só pensar.
Minha vez. Agora é a minha vez.
Fui certeiro no poste.
Não aconteceu nada de grave com o corpo.

Espero que estejam felizes.
Pensei.
Meus monstros. Aqueles desenhos que eu não sei desenhar.
Me pergunto a todo instante aonde eu fui parar.
Não saí do lugar.

3 comentários:

Milla disse...

"Qual choro eu não seguro para não me sentir mais seguro?"

humm gostei disso, deve ser identificação.

achei ótimo o texto yuri.
denso, forte, mas também muito sensível e melancólico...tá equilibrado.

=*

b.s. disse...

Que semaninha heim! =/
Pelo menos valeu um bom texto pra gente apreciar aqui hehe

=***

Anônimo disse...

As imagens ficaram tão boas com o texto, mó sintonia...
Lindo.