
Acordo com Frédéric Chopin tocando piano ao meu lado.
Tudo está preto e branco como a visão acromática dos cães.

Minha cachorra morta há alguns anos vem correndo em minha direção. Como é bom revê-la.
Saio para respirar o ar e sinto-o atravessando meu corpo, como quando nos escondemos embaixo do lençol só para sentir sua textura nos fazendo carinho, quase como ondas do mar.

Estou numa floresta de árvores secas.

Minha namorada surge com o ex-namorado. Eles estão de mãos dadas. Hey, ninguém me avisou nada, obrigado pela consideração. Ela está tão triste. Grito sem sucesso, meus lamentos e ofensas não chegam aos seus ouvidos.

Ela desaparece em névoa.

Me lembra as visões de Munch quando eu achava que estava enlouquecendo.
Olho para o céu preto e vejo pontinhos brancos brilhantes como cristais. Então, cores surgem indicando as constelações... Vermelho, azul, verde e rosa. Qual constelação estará escondida em nossos olhares?
Não sei todas por nome, mas as reconheço.
Volto o olhar para a atmosfera terrestre e lá estão outras dezenas de pessoas. Andando sem parar, sem destino.
Não existe mais a casa de onde eu saí, só aquela mata morta. Para onde vão? Posso ir?


Será que finalmente minha lucidez desistiu de mim?
O sangue tem cor.
Deixo ele colorir meu corpo por fora enquanto me corto com as lembranças.
Um corvo me observa perto o suficiente para que eu possa tocá-lo. Se eu encostar nele, ele estará morto, porque outros corvos sentirão a essência humana em suas penas e o matarão.
Chopin nos observa enquanto toca. As notas batem fundo dentro de mim, as vibrações das teclas confortam.
Fico pensando em todos que eu já tocara. Em todos que eu não consigo mais ver e deixei sem despedidas.
Há alguém para me salvar.

Vem em minha direção e seus passos formam vida no caminho, crescem grama, flores, pássaros cantam. A reconheço, não acredito. Me arrepio e corro em sua direção, a abraço e começo a chorar.

Um arco-íris corta a cena e tem cor. Um abismo infinito.
No céu, ele que sempre esteve lá.
De repente, tudo começa a desaparecer novamente, ficando cada vez mais escuro, comigo abandonado no breu. Não deu tempo.

Só lamento por não ter conseguido me despedir de ninguém. No fundo, o diabo nunca vai deixar de me olhar.
Tudo terminou acromático em mim.
Me deixando sentir um vazio por dentro.
Um vazio sem fim.
Às vezes eu fico pensando se os sonhos não são um paralelo de outra realidade, entende?
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legenda das fotos:
01. Mulher Chorando Frente ao Leito - Edvard Munch
02. Frédéric Chopin
03. Alexander Binder
04. Alexander Binder
05. Alexander Binder
06. Separação - Edvard Munch
07. Alexander Binder
08. A Divina Comédia
09. Man Ray
10. Alexander Binder
11. Alexander Binder
Um comentário:
I swear it's just a dream
No no no !
Just a dream that I had..
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