Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

15 de fevereiro de 2011

O melhor Yuri - 5 anos

Para o 5º ano do Wonder, escolho o melhor do meu parceiro.
Este texto é de março de 2008.

***

Where Do You Go To (My Lovely)

O telefone toca. Acordo. Ele toca diferente. Eu acordei diferente, e posso dizer exatamente quem é do outro lado da linha. Mesmo que tenhamos ficado muito tempo sem nos falar. Sua voz ainda soa claramente limpa e doce em meus ouvidos.

- Alô?!

Neuilly Park Hotel, 23, rue Madeleine Michelis. É para onde ela está indo. Exatamente onde eu estou. Paris nunca pareceu tão bela. Tão bela e injusta.

Termino de escrever uma baboseira ou outra em rascunhos mais perdidos que eu, coloco uma música e vou tomar banho. Não sabia quanto tempo fazia que não tomava um banho. Minha barba também não está apresentável. Já não sabia quanto tempo fazia que eu não saia na janela. O cheiro da França nunca tinha sido tão suave.

A campainhia avisa que só a porta nos separa.
- Feliz Natal - ela esparrama as palavras que dividem atenção com os gestos de suas mãos. E o mesmo sorriso de antes.
- Você fez luzes no cabelo.
- Estou aqui. Gostou do presente? - Meu presente... Meu passado. Gostava do meu presente sem ela. Mas dela eu gosto muito mais.
- Não vai me convidar para entrar? - Ela já estava entrando, e sabia que não precisava de convite algum. Na verdade, ela nunca havia saído.

Um abraço. Nós ainda encaixamos perfeitamente. É como se tocasse sua pele baunilha sob suas roupas, como seu eu fosse seu próprio cheiro. Sentia seu coração inseguro como se sussurrasse segredos com o meu pedindo abrigo em mim. Aqueles segundo pareciam eternos. E se pudesse, diria sim.

Cigarros. Nunca mais havia fumado desde que ela foi embora. E lá estávamos.

- Que flores lindas!
- É. É mostarda. Você sempre duvidou delas.
- São lindas.
Você é linda.

Nos beijamos exilando a tensão que nos cercava. Ela passava segurança, mas suas mãos não. Suas mãos suavam pelo meu corpo enquanto eu a despia e a cercava de dentes. Uma marca de cigarro que antes não tinha. Um olhar triste que eu não conhecia. Ela respirava em cima de mim.

- Você não deveria ter me encontrado.
- Você não deveria ter vindo para um lugar tão óbvio.
- Talvez no fundo eu quisesse...
- Pensei que fosse ficar em Champs-Élysées¹. Combina com você.
- Pensei em ficar lá. Mas combina com você.
- Sabia que iria te encontrar por aqui.
- Viva la résistance!

Uma longa pausa. Um longo beijo. Ela diz o óbvio:
- Eu vou embora.
- Pra onde?
- Pra longe.
- Eu acho que também vou. Alemanha ou Amsterdã, ainda não sei... Fiquei tempo demais aqui.
- A Alemanha engorda. E vai te partir o coração.
- Mais do que você eu acho que não.

Ela levanta. Pego três flores de mostarda e coloco em seus cabelos. Ela fica perfeitamente bela vestida só com flores. Como Paris. Eu não queria deixar a França, e não queria deixá-la. Mas que escolhas eu tenho? Ela sabe porquê estou aqui, que escolhas eu tenho?...

Silêncio.

- Quer ver a visão que eu tenho de Paris? - Ela concorda com a cabeça. Pego em sua mão e caminho em direção à sacada. Então, no meio do caminho, coloco-a em frente a um espelho e a abraço por trás. Dançamos a noite inteira. A última de várias outras últimas.

***

Acho este texto lindíssimo, inspirador. Um lado seu que aprecio sempre.

Parabéns, Wonder!

2 comentários:

De Lancret disse...

alice acertou, assino em baixo.

sempre preferi os contos, inspirados e inspiradores ;)

pra vcs =*

b.s. disse...

apesar de preferir outros, realmente é lindo, lindo, lindo. não conhecia esse texto.

como vários outros seus, faz a gente querer estar ali. quase se sentir ali mesmo.
querer ser a personagem dos seus contos. ¬¬