Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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9 de junho de 2006

Um cão acorrentado só pode ver a vida passar

Fazia tempo que eu não escrevia em meus cadernos e, quando fui escrever, minha caligrafia estava tão estranha. Comecei a prestar atenção nos movimentos feitos pela minha mão [e, claro, minha letra foi ficando pior, saindo das linhas... mas por que também manter esta ordem imposta? Deixo isso pra depois]. Prestei atenção na caneta também, como eu usava ela. Mas eu também estava usando minha mão. Ou não?

Daí, veio a mim essa idéia: meu corpo era meu instrumento ou meu limite? Seria ele algo que eu estava usando para satisfazer o meu eu interno? Eu uso o meu corpo para me expressar, para que o meu eu seja manifestado para os outros? Ou seria meu corpo meu limite? Será que eu sou maior que o meu corpo me permite? Quero eu fazer movimentos que simplesmente não posso fazer, por não ter asas e sim braços, por não ter garras e sim dedos, por não ter focinho e sim boca? Sou maior que meu corpo me permite? Estou presa? Quero sair?

Fiquei pensando e pensando. O meu corpo é minha linguagem. Eu uso ele para me expressar toda hora. Não consigo falar sem movimentar minhas mão... até mesmo como eu iria falar [e eu falo muito!] sem minhas cordas vocais? Sem mencionar meus olhos. Digo tanto através deles. Minto e transpareço quem sou por eles. Minhas mãos escrevem!! Meus pés pulam!! Meus dedos tocam!! Minha face me entrega...

Meu corpo me prende. Ele me limita, dita quem eu sou, quem as pessoas acham que sou. Não tenho 12 ou 15 anos. Não sou meiguinha. Não sou criança. Também não sou amarga ou tediosa. Quero voar mais alto que todos! Quero sair dessa terra, lotada de humanos frios... quero sentir o vento, as nuvens, não ter medo de cair! Quero mais energia para correr, andar, pedalar e não desmaiar no ônibus... quero ser julgada por quem sou, não quem pareço ser.

Um psicólogo fenomenologista disse num livro que o corpo ao qual nos referimos não é o corpo dos livros de anatomia. Nosso corpo é outro, é o corpo que somos e não o que temos. Nós tocamos na face que somos, não na que temos. Quando minha mão segura o seu braço, ela toca você, e não o braço que você tem. Melhor: quando eu toco você, eu toco você. Entendeu? Então, rejeitar o nosso corpo como ele é é rejeitar nós mesmos.

Acho que acabamos tendo que nos aceitar como somos, nossos limites. Viver se sentindo numa prisão deve ser horrível. Digo não às gaiolas.

4 comentários:

Alice disse...

eu sonhei que tinham 2 comentários aqui....

Alice disse...

pronto! realizei meu sonho!!






se bem que os dois comentários eram seus... o primeiro era ou um poema seu ou uma música... e o segundo um comentário sobre a música...







acho que nem sempre podemos realizar as coisas da maneira que queremos

Yuri Kiddo disse...

sonhos nos pregam peças
sonhos? peças
vidas? pregos

Alice disse...

pregos no boneco de vudu ou no tampo do caixão?