“Fiz minha casa no teu cangote. Não há neste mundo quem me bote pra sair daqui”, tocava ao fundo enquanto repetia a letra como se fosse uma poesia de minha autoria inspirada em você. Ali, à minha frente, sorrindo vagarosamente, combinando com a noite sem pressa.
Meus sentidos eram todos para te sentir. Abraço, beijo, cheiro, toco e ouço tudo que tem a dizer [n]aquela noite. Mas dizemos tudo em silêncio. Lambo teu pescoço e mordo tua orelha, faço graça te lembrando quando disse que queria ser teu brinco só para ficar sempre pendurado em seu lóbulo e ouvir os segredos que te contam – ou os que você mesma se conta.
Sentados na cama, debruçados na janela, olhando o céu, ouvindo Céu, iluminados apenas pela noite e pelo azul da tela do computador. A paisagem são árvores que não conseguimos ver de onde vem, mas podemos enxergar sua grandeza dividindo atenção com as estrelas. Iluminadas por uma luz branca vindo de baixo, elas parecem uma pintura, uma tela a óleo bem delicada. E ficamos imaginando se aquilo não era um quadro gigante que nós estávamos pintando. E uma hora olhei para trás, porque imaginei sermos a pintura de alguém.
Noite quente, a Lua ajudou. O mar de lençóis que cobria a gente ficou jogado, misturado com as roupas pelo quarto. Céu gemia de um lado, nós bem baixinho do outro, só pra gente. Sua pele brilhava de suor, o meu escorria pelo corpo, pingava em teu peito. Beijos molhados, demorados, apaixonados. Sua delicadeza era encantadora. Cúmplices, atravessamos o estar, éramos um único ser. Unos. E vagarosamente, fizemos amor.
Deitados por um tempo, sorrindo de um ou outro pensamento que não precisamos dizer, já sabemos. O vento lá fora fazia das folhas das árvores o barulho do mar, fechei os olhos para imaginar. Você. Sem dizer, só sentindo um ao outro respirar, o corpo indo e voltando o mesmo ar, o mesmo corpo. Eu respirando você, você em mim. “Como pode, no silêncio, tudo se explicar?!”
Um comentário:
essa noite parece até mais uma história inventada por você. mas a descrição é de uma verdade tão bela que nem precisa que lhe acrescente novas palavras ou novos personagens. uma escuridão colorida, uma calmaria divertida e um silêncio cheio de gritos e desabafos. é a nossa imaginação - tão tocável quanto nossos próprios corpos - criando a realidade. uma mágica real.
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