Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

3 de março de 2010

Centro de São Paulo, cinema pornô e dois dados fulmegantes +18

A vida
[no centro de São Paulo]
já é estranha por si só.

Quarta-feira de cinzas. 2010.

Dois. Dobrei a bermuda até o meio da coxa, pus um Trident na boca e atravessei a Santa Ifigênia, de shortinho, regata, óculos de sol e chiclete. Encontrei muito mais do que eu queria, mas não encontrei o que procurava.


Tinha tempo livre hoje de manhã, a cabeça cheia de parafernálias antigas que vieram me incomodar, misturando as merdas atuais com os rebuliços de antes. Por que não brincar?, já faz tanto tempo e não tenho nada melhor a fazer enquanto estou perdido no centro. Cinco.

Cinco. Penso. Não, não se pode pensar na escolha dada, já foi feita, sorria e faça com vontade. Vou ao apartamento dela. No caminho, o fedor de mendigos que não estão mais ali – uma mistura de lixo, suor e fezes digna de uma boa careta matinal -, outros jogados nas calçadas, pombos, gente, policiais, ratos, camelôs... Nem sei mais a diferença de um para outro. Quanto tempo faz desde a última vez? Ahh é, dezembro. – Oi. Um pico logo pela manhã, para acordar com disposição. – Você por aqui, baby, que surpresa... agradável, eu acho – disse com uma voz cansada de carnaval, num corpo cansado de carnaval. Claudia havia largado toda sua vidinha burguesa e patética para virar puta no centro. Respeito. - Só tem morfina, baby. – Beleza -, disse com a afobação de uma criança querendo correr pro fliperama, mas odiando sempre esse lance de "baby", soa tão falso e não precisamos disso. Cinco de novo. Pago o que devo e vou embora.

Devo andar até a 24 de Maio, entro na Galeria, fechada, dou umas voltas furadas. Saio do mesmo jeito que entrei, perdido, sonolento, passado, confuso com a vida, entre muitas outras coisas. Passo em frente a um desses cinemas pornôs. Um. Volto ao local. Tem cinema e cabine.

Seis. R$ 1,00 por cinco minutos de cabine, é um preço razoável para uma punheta desonesta. Não sei como essas coisas funcionam, sempre tive curiosidade, mas nunca havia adentrado um pornozão do centro. Sei que devo dar R$ 1,00 à moça do caixa. Ela me retorna uma ficha, dou uma olhada no catálogo exposto na parede, que explica em imagens o que cada um dos oito canais têm a oferecer.

O corredor é escuro, iluminado por uma luz negra fraca. Gemidos de mulheres ecoam alto caminho a fora. Me senti intimidado. Ando entre as cabines, que ficam do lado direito, algumas ocupadas. Comigo entra um cara, um tio sem importância. Me olha com culpa, devolvo o olhar com orgulho. Cabine 9, ele vai na 8. Tenho cinco minutos. O que fazer agora? Coloquei a mochila na cadeira, inseri a ficha e zapeei os canais em pé.

1. Pornô gay. Um cara lambendo o cu do outro e tocando uma pro mesmo outro.
2. Zoofilia. Uma mulher chupando o pênis de algum animal que até agora não consegui identificar.
3. Hetero. Morena dessas ninfetinhas, perceptivelmente a contra-gosto, chupando o pau do cara e não gostando daquilo.
4. Hetero. Loira acabadinha chupando um cara, mas com vontade. Closes na buceta e no cu dela pro ar enquanto chupa. Bela cena.
5. Fora do ar.
6. Hetero. Sexo sem-graça com uma peluda estranha.
7. Fora do ar.
8. Threesome. Um cara e duas garotas. A da pele branca com os cabelos tingidos de vermelho fica só na assistência enquanto o cara enterrava a piroca no rabo da morena gostosinha e bonita.

Nada a ver com o catálogo na parede da entrada.

O dado dizia: masturbe-se. Lá fui eu a muito esforço abaixar a bermuda ali naquele cubículo sujo, cheio de outros homens espalhados, com as paredes sujas de multidões. Na verdade, nada visível, parecia bem limpo até – não que alguém devesse arriscar. A TV 14” dividia a atenção com os avisos de que “É proibido fumar” e “É proibido entrar acompanhado na cabine. Não insista!”. Não sentia a mínima vontade de sexo naquele momento, naquele lugar. Restava agora ver qual canal seria dono dos meus lonely soldiers.

UM!

Mentira! Hahaha. Deu seis de novo, ou seja, eu teria direito a 30 segundos mais ou menos para cada canal. O som é bem alto, todos ouvem o que você assiste. Tenso. No final de tudo, lá estava uma parte de mim cuspida naquele chão quadriculado. A TV desliga sozinha. Subo a bermuda numa cena decadente. Olho a parede no meu lado direito e tem um buraco na altura do pênis. Interessante. O tio da 8 tinha acabado de sair, então olhei pelo buraco, óbvio. Tomei um puta susto, tinha outro cara lá, mas dessa vez, passando um pano no chão que devia estar mais sujo que o próprio chão.

Limpei o meu vestígio em mim mesmo, me perguntando puto como não tem um papel naquela porra? Literalmente, porra. Volto ao corredor bizarro e a primeira coisa que olho é um daqueles troços que ficam pendurados no banheiro com papel toalha, ali, inerte bem no meio daquela paredona preta. Que merda. Tudo bem. O tio saiu comigo e parecíamos um casal indo ao altar. Cônjuges que antecederam a lua-de-mel.

Tomei um suco de laranja na saída e, com a mochila mais pesada do que nunca no meu corpo picado, gozado, dolorido, relaxado e cansado ao mesmo tempo, subi a Consolação a pé e fui trabalhar. Fim.

3 comentários:

Lucas disse...

Quantos detalhes.
Vejo um pouco da minha idéia do centro nisso, mas do pensar para o saber há um extenso espaço, quantos detalhes.

J.Câncio disse...

momentos prazerosos as vezes são nojentos.. .

o melhor dos ultimos tempos!

beijão Yu.
.Ju.

Anônimo disse...

gozo só de ouvir,,,adoro!