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Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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4 de abril de 2006

O Topo

Frio. Estava voltando pra casa, isso foi quase agora; mendiguei uma blusa com um amigo e consegui. Fiz o mesmo caminho que antes meus olhos passeavam novidades e que hoje não desviam do chão, como todos os dias tem sido. E até ouço uma buzina hora e outra, não olho pra atravessar as ruas, nunca fui muito de olhar se vem carro. As ruas mudam às vezes, mas só às vezes. O tempo não tem me sido útil, tampouco justo, e num momento de surto eu quebrei meu relógio de pulso, ontem mesmo [Estou com os braços nus e 'livres' dessa algema do tempo]. Portanto, não sabia que horas eram, também não me importei em não saber. Caminhei sozinho como todos os dias faço, exceto na ladeira, que logo no pé, uma garota passa a andar ao meu lado[ou eu ao lado dela] me fazendo companhia. Logo fiz o mesmo por ela, mesmo ela não querendo, mesmo ela não sabendo. E a garota apertava o passo, eu fazia o mesmo; andava devagar atrás de mim e me ultrapassava quando bem lhe entendia, e eu, encantado, assistia o desenho de sua sombra dançando à minha frente. O topo parecia cada vez mais longe, e seguimos assim, em silêncio. Silêncio gostoso que quase rompi várias vezes. No meio do caminho começou a chover folhas mortas, duras, secas, parecida com gente quando morre... seres vivos que morrem, todos iguais... Quedei minha inquietação numa dessas folhas que o vento me trouxe. Nisso, a mãe da garota a esperava no vento, no medo, no escuro por sua filha que derrubou sua bolsa pesada sobre os ombros fortes da mãe e disse lá algumas levianas.
Mães, inacreditáveis! Fiquei impressionado. Mãe, às vezes gostaria de ter uma só pra desejar não ter; ou não ter só pra sentir falta.
Aquelas mulheres são passado agora. Subimos eu e a folha. Estava afoito, não sei por quê. Olhei para a folha e refleti sobre como a vida não vale bosta nenhuma. Ela viveu a vida inteira presa e agora que está morta, ganha a liberdade que talvez tenha passado a vida para conquistar e começar a vagar o mundo sem caminho certo. Vai entender... Ri solenemente e comecei a picotá-la sem um motivo aparente. Quis matar o morto. Cheguei ao topo e olhei meu passado. Discórdia...

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