Noite quente. O ventilador fazia vento de chuva só para nos cobrirmos e procurarmos calor um no outro. Fingi dormir só para vê-la dormir primeiro e sentir seu corpo descansar sobre o meu. Para onde Morpheus a leva? E eu, fiquei pensando, pra onde vou quando meus olhos se fecham?
Ouvi um barulho estranho no quarto. Acordei e ela não estava mais ao meu lado. Do mesmo lado que havia dormido. Entrei pela porta do quarto e a vi de quatro dando para outros caras, com outros em volta. Homens que me destroem. “Me fode. Eu te Amo”. Eu não existia mais ali, pra ela. Ali. Ela não me enxergava mais, eu não era mais. Minhas mãos tremiam desejando arder em sua pele, minha boca batia os dentes querendo dizer, meus olhos choravam um ódio velho, minhas forças... Eu não as tinha.
Acordei do pesadelo horrível com o nariz enterrado em seus cabelos negros e cheirosos. Alívio. “Que foi, amor?”. Nada, não foi nada. Ela então se vira pra mim deixando mostrar pela camisetinha folgada o bico do seio direito, o meu favorito - aquele com a pintinha, o que me hipnotiza, aquele que sempre me diz “me chupa” - e começa a me xingar, dizendo que eu não presto, que não valho nada, que eu sou um filho da puta. Eu fico tão abalado que acredito. Quando quem você ama te fere, nada resta exceto ser ferido.
O que eu sinto nas situações é tão desesperador e decadente que eu desejo morrer. Ou acordar. Meu corpo, para me proteger, escolhe a segunda opção. Acordo. Ela deitada em cima do meu braço acorda também. Eu lacrimejava e limpava os olhos e o suor. “Que foi, amor?”. Nada, não foi nada. Um pesadelo. Com nada que valha a pena, preciso ir ao banheiro. Levanto e vou desconfiado até a pia. Me olho no espelho. Será outro sonho? Quem é você? No reflexo só eu mesmo, um eu que eu não vejo. Um eu que só eu vejo. Procuro algo que me acorde. Procuro algo que me mate e só encontro a mim mesmo. Aos meus pés, percebo uma poça d’água e afundo, do quarto ela me chama preocupada “amor?”, sua voz se mistura a tudo e sinto que vou desmaiar. Não respondo. Sento na privada e respiro fundo. Não posso desmaiar. Alguém já desmaiou no sonho? É possível sonhar dentro de outro sonhar. É possível controlar a perda dos sentidos. O que faz sentido quando se perde a realidade? O que faz sentido no que chamamos de real?
Cambaleio até o quarto. A questiono sobre as brigas que não aconteceram. Ela me abraça e disse que tudo foi mentira, um pesadelo. E se agora também for um sonho? Não explico nada, só quero caber em seu abraço. Ela me beija e sinto o conforto de seu carinho amansando o animal assustado. É como me sinto, indefeso e cego em só poder acreditar em todos além de mim. Eu além de mim soa tão melhor.
Fazemos amor, nos juramos amor. Se dessa vez é sonho, não quero acordar. Quero viver sem dia seguinte, um sonho dentro de outro sonho. Um sonho após outro sonho. Paz no caos das minhas ideias. Afundo no colchão grudado nela com medo de cair novamente em minhas armadilhas. Mas ela está lá para me proteger de mim mesmo. Boa noite, amor. Te amo.
Um comentário:
eu só quero que você durma bem e tenha bons sonhos.
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