Argh, mais um dia. Meu primeiro pensamento do dia costumava ser que horas são?, até o despertador do celular me avisar todos os dias que já são 6:50. Sempre. Acordei pensando: Alice!, não vai esquecer hein?! Durmo até 8:10 com o despertador tocando de nove em nove minutos uma música que eu não pedi. Não lembro. Levanto atrasado como quase todo dia. Está chovendo. No rádio, Milton Jung avisa que está chovendo e pergunta do trânsito. Aquela ladainha do trânsito poderia ser só uma gravação. O trânsito não muda, são sempre as mesmas pessoas nos mesmos carros fazendo as mesmas coisas. Pra quê saber do trânsito de todo dia se a gente já sabe? Desço as escadas e procuro alguma coisa pra comer. Tomo um copo de suco de goiaba e me arrependo, nem gosto tanto assim. Mãe, não vou almoçar em casa. Tá.
Costumo reparar nas pessoas no trólebus e no metrô, mas hoje não. Hoje estou cinza, como o dia, cinzento - "...com máxima de 25º na grande São Paulo". Mas a pequena me parece bem mais quente. Tiro minha blusa sem tirar os olhos do livro: A arte de produzir efeito sem causa. Quando dei por mim já estava na estação Anhangabaú do metrô. Nem percebi. Os dias passam e a gente só vai sendo condicionado às coisas sem nem perceber. Lembrei que lavei o cabelo hoje de manhã com um outro condicionador – para cabelos danificados. Só cabelos? Penso que para tudo temos um condicionador. Um bar ou uma mentira ou sexo podem ser condicionadores para desiludidos, por exemplo. Para danificados.
Entro no prédio em que trabalho e ninguém me percebe. Só percebo todo mundo porque estou com fones de ouvido. Olho a todos para responder um bom dia caso alguém me deseje isso. Ou finja, pelo menos. Eu quero que todos tenham um bom dia para que não atrapalhem o meu. Aqui o povo é bem sincero, e atravesso tudo transparente. Só a catraca sabe de mim. Subo um elevador até o térreo e espero o outro até o sexto. O elevador que faz envelhecer pela espera. Odeio esperar. Aqui os elevadores são tão confusos e temperamentais... Penso nas escadas, mas logo de manhã?! Eu não uso escada rolante, já subi uns bons degraus pela hora que é. Eu nem sei que horas são. Subo, dou um sorriso amarelinho pra secretária, que sempre me pede uns “biscatinhos”, como ela mesmo diz. Não tem ninguém no meu setor. Ainda bem. Trabalho com comunicação, mas odeio me comunicar de manhã. Deixo a mochila na mesa. Mal me acomodo, a secretária aparece com um “biscatinho”. Já? Vai ali, vai lá, vou. Volto e lá está ela com outro favorzinho. Faço porque gosto dela, ela é engraçada e parece ser verdadeira. Mas em outro prédio? Chovendo? Putz, já vou.
Digo que tenho que esperar a garota que chega às 10, não posso deixar o setor sem ninguém. (E também estou com uma certa preguiça). Que horas são, hein? Lembrei que ia comprar um suco de laranja e um pão na chapa antes de subir. Esqueci. Posso pegar na volta do “biscatinho”. Antes de ir, abro o Word e começo a escrever esse texto. Eu sempre escrevo direto no blog, mas ia demorar muito pra abrir o blogspot e fazer o login. Não quis perder o fio. A Tejano acabou de chegar, ou seja, hora de ir. E eu nem sei que horas são. 10:23.
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