Quem nunca viu uma mulher derramar lágrimas pretas? No melhor estilo Alice Cooper, a encontrei no meio fio da calçada ao fim de um show dizendo que estava tudo acabado. "Está tudo acabado", repetia sem parar. As pessoas passavam e a cumprimentavam: "Clau, não fica assim", "tchau Claudjá, que show hein!", "Clau, a-do-rei, você não? Só achei o final um pouco forçado".
Ela só vestia preto, parecia estar sempre pronta para um funeral, ou sempre de luto. Combinava com seus longos cabelos vinil. Tinha a pele mais branca que o liquid paper que usamos pra apagar os erros cometidos a caneta. Ela lamentava por ela não poder fazer o mesmo. Lamentava por ela. Queria ajudá-la, mas ela só me afastava. "Eu já chorei demais", repetia sem parar. Você chora por alguém, mas já tentou chorar para alguém?
Todas as pessoas que passavam a cumprimentavam e pareciam familiar, eu até conhecia algumas umas e outras. Mas o que estariam fazendo todas ali no mesmo espetáculo? Eu não sabia que todos estariam ali. "É o show da minha vida", ela dizia, e acabava assim, com ela chorando sozinha na calçada. - Era um show importante? - perguntei tentando um gancho para o diálogo. - Você não entendeu - ela então começou a falar, - é o show da minha vida, todos vieram assistir a minha vida. Todos vieram derramar suas lágrimas e prestar homenagem a mim. Mas infelizmente eu ainda estou aqui, não estou?
Sim, realmente ela estava ali. Ela chorou mais aquela tinta preta ácida e venenosa e pôs pra fora toda a mágoa em seu peito branco e volumoso. Talvez tivesse um coração de nanquim, talvez tenha pintado somente um rascunho amassado e agora precisasse de um novo coração de papel branco e liso para colorir com outras cores. Não vi o fim de uma alma, e sim uma outra vida que estava pra começar. Nova. De mais lágrimas pretas, com motivos diferentes e os mesmos de sempre. Tentei convencê-la de que seu show não terminava ali, apenas um ato, e que outros estavam por vir. Talvez eu tenha chegado atrasado para o que ela disse ser o todo. Mas prefiro acreditar que cheguei em tempo para fazê-la crer que o futuro era incerto, mas não proibido.
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