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Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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15 de janeiro de 2009

O Palhaço que Ri

- Eu quero um palhaço com cara de deboche! - Falei ao tatuador com uma certeza antiga, com uma firmeza que não tenho. Eu queria mesmo um tigre tribal, mas não tinha o desenho ali na hora, não tinha internet, não tinha revistas, não tinha desenhos naquele estúdio. Mas era tão real minha vontade, minha ansiedade. Era tudo tão real e verdadeiro...

Palhaços sempre me assustaram, desde criança. Com aquela maquiagem derretida de suor, aquele ar velho, bêbado e cansado. Fingindo insanidades, rindo sadicamente da desgraça alheia, boquejando o próximo à vergonha e humilhação. Quem eles querem enganar? Eu sei que eles ressentem por rirmos deles, da cara deles, e não para eles. Velhos amargurados que precisam de máscaras para esconderem suas decepções e fracassos. Mas eu sei também que quando damos as costas, são eles que riem de nós, todos nós. Eles têm motivos de sobra pra isso, mais que nós deles. Eles são cônscios de suas ações e anseios, enquanto nós só mascaramos tudo e damos falsas risadas e promessas. A única diferença é nossa covardia e nossa máscara ser transparente.

- Eu quero um palhaço com cara de deboche. Nas costas! - repeti com mais determinação. Era isso que eu queria. "Nas costas?", indagava o tatuador, "o melhor lugar pra fazer é aqui assim", mostrando a parte de trás do ombro até o cotovelo. Mas eu estava decidida. Tinha motivo. E não entendia aquele tatuador, acho que ele representava minha vida, era inseguro.

Precisava disso. Precisava mostrar a uma garota que me fez de palhaça - e agiu como uma, que agora é a minha vez de escarnecer. Me enganou, riu de mim, me ridicularizou na frente de todos, humilhou minha paixão e pisou em meus sentimentos. Me conquistou com falsas flores só pra me esguichar água e me afogar quando estivesse bem próxima. Fez seu circo em minha própria casa, desgraçada.

O palhaço é pra ela, pra quando eu der as costas, ela se ver refletida no passado, atrás de mim, me seguindo... Tendo somente minhas costas debochando de sua cara, enquanto quem ri sou eu.




*Para Paula "Tejano", que sempre divide suas experiências e me confia segredos e sonhos.

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