Sento a espera de minha paz e a encontro no meu último pôr-do-sol, hoje é um bom dia para ir embora. Um punhado de areia fria em minhas mãos faz a minha sentença. Minha ampulheta quebrada se mistura com a praia. O sangue escorre de minhas mãos enquanto eu mastigo o vidro. Encaro o mar como meu abismo, meu abrigo. Meu manto nas noites de inverno.
A praia no inverno é o inverso. Decadente, só eu marco minhas pegadas por suas areias úmidas. Eu não sei aonde meu espírito foi ou para onde ele quer me levar, mas está tudo bem. O mar me chama para lhe fazer parte, e deveria me contar segredos e tentar me convencer que a vida é muito mais. Mas comigo ele é sincero, sabe que eu sei que é isso. Só isso.
Eu quero enfrentá-lo, encará-lo, invadi-lo fundo, o mais fundo que puder. Porque não existe nenhum outro lugar aonde eu quero estar e mais ninguém que eu queira ver, mas tudo bem. Partículas de dor invadem meu cérebro avisando que vieram para ficar. Trabalham sem parar, não me deixando esquecer um minuto sequer. Eu não consigo mais esconder, nem ao menos fugir. Eu só preciso escapar.
O barulho de máquinas e apitos e gritos e sirenes e fogos de artifícios ecoam na minha mente. Música que me faz chorar. Faz o tempo parar, o som abafado do oceano, ondas de canto lírico, de poética onírica e atemporal. É um bom dia. Quero morrer no mar.
3 comentários:
tenho a impressão que já escreveu algo parecido.
este teve seus altos e baixos, como as ondas, e terminou gostoso, molhando somente as bases dos pés.
o começo amargo, o meio agoniante e o doce fim. foi a areia que te fez sonhar?
você não estava pronto pra ir.
tive a mesma impressão, algo parecido. talvez a música já tenha inspirado outros.
Concordo plenamente. Deve ser doce mesmo, afinal. Legal, uma meta.
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